martes, 18 de diciembre de 2012

Helena e Zacantue



Pelo céu ia vir  a perdição. As gentes do lugar vê-lo-iam passar. Um homem com aspeto de adivinho; Zacantue, o ermitão, que vinha das cimeiras mais altas assim o prognosticava. Era respeitado pois tinha o dom da palavra muito bem afiado, como sua língua de perigosa víbora. As gentes do lugar cedo foram avisadas,  e reuniam-se agolpadas ao redor da colina desde onde  veriam passar a bola de fogo.

Enquanto isto ocorria, uma jovem mulher convertida em lagartixa, numa cova próxima à colina desde onde as gentes de diversos lugares se encontravam para presenciar tal singular evento, reflexionava a voz alçada: -¡Queira o sol que alumie num novo dia a verdade!¡Afasta ti!,¡luz traidora artificial e mitológica! Essa criatura de minha alma que não sabe calar. Procura abortar a  aparente dor. Agora lagartixa sou, ¡Eu, Helena!,vivo entre as pedras.Agora acostumada estou,  enquanto os outros ,que vivem fora da gruta...¡Estranho Lucifer ,só  queria ir ao vale a nadar; mas as gentes da aldeia, ao ver-me nua. E em ato livre de minha  pele começaram a murmurar. E assim foi que me vi metida numa trama onde Zacantue consentiu que me fossem a lapidar. Pude escapar e vim-me a viver a esta cova. Quiçá em algum dia;¿quem sabe?.Guardo comigo o segredo de minha cara companheira a serpe, que a sua vez é guardiã de tesouros. Dantes eu vivia numa espécie de castelo, apartada dos demais, esperando à primeira pessoa que quisesse subir à torre mais alta de minha fortaleza. E depois de subir voltar a baixar  com ela para ir ao mar. A serpe fala-me de rotas desconhecidas para uma .Mas bem é certo Mas bem é, preciso de outra companhia que me faça sentir que em realidade sou humana.

Por conseguinte, deixamos um momento a Helena na cova, pois lá ao longe ouve-se já o flautim  do anão aventureiro .Vem como sempre ,solitário e bom desde longe e estranhamente irreal quando o vês de perto. Está a falar com as flores, que se param para lhe receber:

-¿Quem sou?.¿Em que se converteu minha bondade?.Deveria percorrer o médio mundo, e avisar ao médio outro do perigo da alta engenharia interpretativa, pois agora tão só vivo onde queiram os demais, e gasto minhas forças na quimérica mentira. Com isto entender-se-á que eu não existo se não me criam, mas também atendo às reais súplicas. Tal é assim que agora o dever me chama, devo atender à voz de um suspiro que parece sair de uma cova. É um voz de mulher a que soa.¡Ah!...,assim que... ¡Assim que  se trata de Zacantue outra vez!....

E agora Helena, num  novo dia, outra vez na gruta:

-Pois..., isso pois,...,enquanto assim em outro dia estava eu, Helena, na cova, gozando e morrendo ao mesmo tempo.¡Sim!,baixo a influéncia do brilho de Lucifer. Então ocorreu algo inesperado. Do  lago que está perto da cova o ave mitológica universal,e desde o fundo do mar saiu para chegar ao céu. A serpente assustou-se. E o pássaro elevou-se ,e em seu próprio eixo ao girar mudou  de direcção. A serpe olhou-me rezelosa e escapou-se. Figurou nesse instante lisa e claramente alhanada sua trajectória. Voou o pássaro e vinho até minha gruta. Na entrada posou-se e transformou-se numa enorme águia. Dei-me que me subisse a ela.¿Quem poderia se resistir ante tal proposição?.Voamos a favor do vento atravessando vales e montanhas...

Agora está a coisa um pouco confusa, pois isto do voar atravessando vales e montanhas não estava no guião.  De fato, observo desde esta parte do papel como o anão flautim está incomodado. Está ele  agora com os meninos do lugar, no alto da colina. Ele sabe que se trata de um meteorito, Zacantue também. Mas este último aproveitava-o para criar falsas superstições, que passavam por advertir  aos lugarenhos que deviam pagar tributos ao maligno, os deixando no alto da montanha se não queriam que suas casas fossem arrasadas  pela ira do fogo que voa. O anão descobreu ao impostor. Ao final sobem todos à montanha, ao cume mais alto onde vive Zacantue. Este se vê obrigado a ensinar sua covil.
Não se sabe como se lhas pôde ingeniar para conseguir tal quantidade de livros   de astronomía, muitos deles posteriões a seu tempo. -¡Zacantue!,¡chegou tua hora!,mas...dantes de tudo, quem sobre o guião deveria ter descoberto esta trama eram Helena e o pássaro que se transforma em águia ...¡em fim!,...¡atravessando vales e montanhas!...¡Já!,mas, a verdade, e como a própria jovem que creu ser uma lagartixa dizia. ¿Quem poderia se resistir ante tal proposição?-.

Desta lenda ficam alguns versos em Cantos tradicionais que quase permanecem na épica:


“Voando com entrega
o pássaro da liberdade.
Os mais maiores do lugar
dizem que saiu
do rasgão coração de uma baleia
com afundado arpão de guerra”


xurx@erencia